Compositora de sucessos de grupos musicais como Jota Quest e Tianastácia fala sobre amor e escrita
Aos 35 anos, a canceriana Fernanda Mello vive como uma mocinha que dança a valsa dos 15 anos a todo momento: não se cansa de sonhar, bailar, e amar. Redatora publicitária, cronista da revista Rio Sport Center, blogueira, e compositora de grandes sucessos musicais de artistas como, por exemplo, Jota Quest, Tianastácia, Wanessa Camargo e Felipe Dylon, ela se orgulha ao digitar a esta entrevista sua principal atividade: "tudo o que eu faço na vida é escrever".
E o público agradece. Responsável pelo blog "Coração na Boca", que estreou na web em 2003, pelo servidor de blogs do Terra, no mês de Agosto deste ano, Fernanda mudou seu blog de servidor, após o Terra descontinuar o serviço gratuito para blogs. Na comunidade do Orkut dedicada à escritora, e na de seu Fã Clube "Princesa de Rua", os fãs pediram o retorno do blog, que em menos três meses já foi visitado mais de 24.700 vezes. Em um de seus textos, que circulam por toda a internet, ela se define como uma princesa de rua, como quem mistura o glamour e a simplicidade.
A escritora, há alguns anos, namorou com Rogério Flausino, vocalista do Jota Quest, e hoje são apenas amigos, mas o espaço conquistado por ela é de um caminho próprio. Grandes sucessos do grupo mineiro de pop rock, como "O que eu também não entendo", "Mais uma vez" e "Só hoje", são de autoria de Fernanda. Nesta entrevista, ela, apaixonada pela vida e romântica assumida, demonstra não temer nada. Se há quem diga que quem ama demais um dia acaba em um apartamento sozinho e rodeado de gatos, não se preocupe, Fernanda mora sozinha com Cazuza e Bebel, seus dois gatos, e está muito bem, obrigada.
- Quando você começou a escrever contos, crônicas e poesias?
F: Comecei bem nova, ainda no primário, quando entrava em concursos de redação. A partir daí, não parei mais. Veio o blog, as músicas, as crônicas para jornais e revistas.
- Em que momento resolveu criar o blog e como ele se tornou tão conhecido?
F: O blog teve início em 2003 e ficou conhecido quando o Jota Quest gravou minha primeira letra: "O que eu também não entendo".
- Há alguma dificuldade em manter um blog no ar, com a recente proliferação de blogs na internet?
F: É difícil, muitas pessoas copiam o blog, se apropriam dos textos, mas internet é isso: não temos controle. Então, fazer o quê? O máximo é tentar conscientizar as pessoas a colocarem os devidos créditos nos textos em respeito aos autores.
- A dor ou a felicidade? Qual sentimento mais lhe inspira?
F: A felicidade me inspira muito. Mas a dor é que faz as melhores canções. Acho que sentimentos intensos são o que me movem. E me fazem escrever.
- Ao ler seus textos, às vezes, temos a impressão de que você teve seu coração partido algumas vezes. Isso é verdade? E se for, escrever é uma terapia?
F: Eu morri de amor várias vezes e sou muito grata por isso. Viver sem amor não tem graça. Eu já tive meu coração partido, mas ele ainda está aqui: pronto pra amar de novo. Nessas horas, nada melhor que escrever para entender o coração e exorcizar antigos sentimentos. Escrever é - e sempre vai ser - minha melhor terapia.
- Como surgem os textos?
F: Os textos surgem de detalhes: uma palavra, um silêncio, um olhar, um sentimento que não te deixa, uma tristeza que chega sem pedir licença, uma alegria que invade, uma dúvida, um não-saber sobre tudo o que há por dentro.
- Por ter um blog romântico, você às vezes tem a impressão de que as pessoas esperam que você diga coisas bonitas a todo momento?
F: Acho que não. As pessoas não querem ler apenas coisas bonitas. Elas querem ler verdades, afinal não sentimos coisas bonitas o tempo inteiro. Existe um lado B que nunca se cala e, no meu caso, uma veia questionadora que sempre vem à tona.
- Quando começaram as composições como anda seu trabalho como letrista?
F: Meu trabalho como compositora começou com a gravação de uma música para o Jota Quest: "O que eu também não entendo". Depois escrevi mais letras para eles (sete ou oito ao todo) e espero que ainda surjam mais canções. Há dois anos atrás, o Sérgio Carvalho, diretor artístico da Universal/BMG, me contratou como letrista e, hoje em dia, escrevo para outros artistas da gravadora. Tenho 21 letras gravadas e espero compor ainda mais.
- Jota Quest ainda toca no seu CD Player, ou melhor, no seu MP3?
F: Toca muito! Principalmente o cd Ao vivo. Quando escuto, penso: meu Deus, será que fui eu mesma que escrevi isso? As pessoas cantando "Só hoje", é muito emocionante...
- Há algum texto ou frase sua que seria a sua predileta?
F: Eu tenho um caderno delicioso de frases que vive em constante atualização. Adoro todas. Mas existe uma que é eterna: "Qualquer coisa é a casa da poesia", Adélia Prado. É de uma singeleza sem tamanho.
- Você costuma acessar a outros blogs?
F: Para falar a verdade, não. Tenho trabalhado muito. Não tenho tido tempo nem para escrever no meu blog e isso me mata um pouco. Mas pretendo mudar essa história, acho muito enriquecedor ler o que anda sendo publicado por aí.
- Quais autores admira?
F: Lya Luft, Clarice Lispector, Adélia Prado, Vinícius de Moraes, Cazuza.
- Há alguma situação que você não gostaria de ter vivido e se tornou um texto e alguma situação que gostaria de viver para se tornar um texto?
F: Eu sou assim: se foi dolorido ou triste mas virou texto, então, está tudo certo. Mas acho que tem coisas que eu espero viver e transformar em palavras: lançar meu livro, escrever mais músicas, viajar, ter uma filha, me conhecer mais.
- Como é ser uma princesa de rua?
F: É bem difícil. Na verdade, é difícil ser quem a gente é. Mas também é uma benção enorme. Tenho um desejo imenso dentro de mim, sou contraditória, vivo me analisando em palavras e frases que eu mesma crio e todo dia quando acordo, penso: eu preciso ser melhor. É uma responsabilidade maravilhosa viver.
- O amor existe?
F: Claro que existe. E, no meu ponto de vista, melhora a cada dia porque a gente também melhora. Dizem por aí que amor é prêmio, recompensa pra quem se ama. Eu concordo.
- Mulheres ainda sonham com o príncipe encantado e acreditam em propaganda de shampoo?
F: Eu acredito! Comprei o Seda Fortificante outro dia (risos). No fundo eu sei que meu cabelo não vai crescer 2,0 cm por mês, mas acho que as pessoas que sonham são mais felizes.
- Como você lida com os fãs?
F: Tento estar disponível porque sou uma pessoa normal e acho estranho essas coisas. No fundo, sou meio bicho-do-mato.
- Sonho a ser realizado?
F: Publicar meu livro, escrever ficção, compor mais músicas, ter um filho, ser uma pessoa melhor.
Com várias páginas em branco, de uma vida de poesia, a serem escritas, Fernanda Mello, essa princesa de rua, parece saber o que muitos ainda não aprenderam: por mais que a carruagem às vezes insista em voltar a ser abóbora, o destino de quem nasceu para ser princesa sempre será o castelo (e nem precisa perder o sapatinho de cristal, o scarpin de oncinha, a bota de cano alto, o tênis da Sandy, as havaianas...).
Fonte:
http://www.eusoqueriaumcafe.com/2008/11/desabafo-entrevista-novembro-2008.html